É Natal
A magia do Natal nesta edição do programa Pauta Musical. Na hora de aquecer e reunir corações fraternos em torno de um espírito todo feito de sentimentos sublimes, seja norte ou sul o hemisfério, que o Natal seja repleto de boa música, paz de espírito e do Amor que tudo realiza.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa, excertos do roteiro e links para baixar os arquivos de áudio. Esta edição foi transmitida nos dias 24 e 25 de novembro de 2022, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade.
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Playlist
Messiah Sinfonia (Händel)
Suite n. 5 em Sol Menor Capriccio (Bach)
Concerto em Dó Maior para Flautim, Cordas e Contínuo Largo (Vivaldi)
Concerto Grosso em Sol Menor, Op. 6, n. 8 (Corelli)
Concerto Grosso em Ré Menor, Op. 8, n. 6 (Torelli)
Concerto Grosso em Fá Menor Op. 1, n. 8 Pastorale (Locatelli)
Sonata n. 4 para Violino e Cravo em Dó Menor Siciliano (Bach)
Capella Istropolitana
Jaroslav Krček (regente)
Roteiro (excertos)
Nem só de verão é feita a época mais esperada do ano. Aqui no hemisfério sul, chega com o solstício do verão austral uma tradição das mais populares ao redor de todo o mundo. E sem derreter a neve do conto de natal (A Christmas Carol) de Charles Dickens, romancista vitoriano que no século XIX criou a imagem da brancura associada à festa, é hora de aquecer e de reunir corações fraternos em torno de um espírito todo feito de sentimentos sublimes. Cada país celebra a data de acordo com suas peculiaridades. Antes do nascimento de Cristo, povos antigos celebravam os momentos que antecediam o retorno do sol num ritual pagão que comemorava a chegada de dias mais longos, o que significava luz, alegria e esperança de boas colheitas. Em Roma, festejavam o triunfo de Saturno, que era associado ao Sol, sobre Júpiter. À essa altura, ninguém trabalhava. Velas e grandes fogueiras iluminavam a noite de muita comida. Os excessos, contudo, levaram à reprovação da Igreja. No século IV, o Papa Júlio I proclamou o dia 25 de dezembro como data oficial, que só no século VI foi declarada como feriado pelo Imperador Justiniano. Na era romana, grandes festejos se realizaram em honra ao deus Mitra, que representava a sabedoria, o sol e a guerra. Cristo representa a vida, a luz e a esperança. O ritual pagão foi dando lugar à celebração cristã e as festas se estenderam até a Epifania, com encerramento no dia 6 de janeiro, dia dos Reis Magos. A fé cristã foi abraçando toda a Europa. A reforma luterana aboliu os festejos na Escócia em 1583, por considerá-los desnecessários face ao aspecto espiritual e sob os indesejáveis exageros. Mas o povo, descontente, continuou a festejar o Natal até que fosse proibido por lei, com punição severa para quem a desobedecesse. Em 1660, Carlos II restaurou a celebração, que novamente ia perdendo o espírito natalino com a Revolução Industrial. Em contraste à Inglaterra triste, a Alemanha festejava o Natal com antigas tradições de feiras, árvores, luzes e presentes. Somente por influência do casamento da Rainha Vitória com o Príncipe Alberto, de origem germânica, é que a Família Real foi responsável pelo impacto que o Natal veio a ter na Inglaterra.
O Messias, de Händel, emblemático e eterno monumento da música de sempre, foi composto em apenas 24 dias do ano de 1741, como obra destinada a concerto beneficente em favor dos presos e dos pobres de Dublin, Irlanda. Uma obra que praticamente só se popularizou após a morte do compositor. O libreto é uma compilação de textos bíblicos do Antigo e do Novo Testamento, dividido em três partes: Profecias e Encarnação; Paixão e Ressurreição; e Triunfo. Essas três partes, correspondem aos mistérios messiânicos celebrados no ano litúrgico: Natal, Páscoa e Pentecostes. O oratório de Händel demorou até ser reconhecido nos recintos sagrados, embora o teor da obra tenha inspiração na concepção judaico-cristã do Messias.
Desde aquela época em que a festa era pagã, música e dança não poderiam faltar. Sol aqui e inverno no hemisfério norte, esse branco natal foi imortalizado pelo cinema hollywoodiano no auge da Segunda Guerra Mundial, com enorme impacto sobre os anseios de paz, simbolizados pelo espírito do Natal. O filme estrelado por Bing Crosby, foi vencedor do Oscar de melhor canção com White Christmas, que se ouve ao fundo nas vozes de Luciano Pavarotti, José Carreras e Plácido Domingo. Händel, Bach e Vivaldi, ao lado de outros compositores de grande envergadura, imortalizaram a inspiração sobre o nascimento de Cristo e a representação de sua existência na Terra, em obras de rara beleza.
Flautim, ou piccolo em italiano, é um instrumento musical de pequeno porte, do naipe das madeiras, que soa uma oitava acima da flauta soprano, produz o som mais agudo da orquestra e é um instrumento de difícil execução. No final do século XVII, surge um novo tipo de composição que se tornou a mais importante forma de música orquestral barroca a partir de então. O Concerto Grosso, que aparece pela primeira vez com essa denominação a cerca de 1670, numa partitura de Alessandro Stradella, é o concerto em que o grupo de solistas, ou simplesmente concertino, geralmente dois violinos e um violoncelo, dialoga com o ripieno, ou orquestra cheia, que é o restante da orquestra. Por vezes, se fundem no tutti, que é característico do barroco. Essa forma musical deriva da música veneziana a coro duplo e da suite de danças, praticada sobretudo na Itália e Inglaterra. O Concerto Grosso, reutilizado por vários compositores do século XX, é quase sempre dividido em 4 movimentos, alternando-se lentos e rápidos, em que concertino, ripieno e tutti são sustentados pelo baixo contínuo, em geral um cravo ou viola da gamba. O mais famoso de todos os concertos de natal, assim considerado, é obra do compositor e violinista italiano Arcangelo Corelli. Com a inscrição “fatto per la notte di Natale”, esta composição datada de 1714 agrega um elemento musical associado ao Natal: a Siciliana, dança tradicional, de caráter pastoral, originária da Itália.
Ao lado de Corelli, outro compositor italiano que atuou no desenvolvimento do concerto e concerto grosso da era barroca, foi Giuseppe Torelli. Violista, violinista e pedagogo, Torelli não só é lembrado por suas contribuições instrumentais, que ainda incluem concertos solistas para cordas e contínuo, como pelo fato de ter sido considerado o mais prolífico compositor barroco para trompetes.
Muito pouco se sabe sobre o início da carreira de Pietro Locatelli, um dos principais compositores e virtuosos violinistas italianos da primeira metade do século XVIII. Dele, que foi considerado o Paganini daquele século pelo virtuosismo de seus 12 concertos e 24 capriccios para violino, é a Pastorale, último movimento do Concerto Grosso em Fá Menor Op. 1, n. 8.
Apreciada em qualquer época, especialmente no Natal, a Sonata n. 4 para Violino e Cravo em Dó Menor, de Johann Sebastian Bach, é em termos estilísticos a mais incomum dentre suas sonatas para violino, ao iniciar seus quatro movimentos com uma Siciliano.
Frölische Weihnachten, Feliz Navidad, Merry Christmas, Buon Natale, Joyeux Noël, Feliz Natal!… Seja qual for o hemisfério, em qualquer parte do mundo, credo ou religião, que o Natal traga a paz de espírito pelas conquistas em desafios vencidos, a coragem que nos leva adiante e a certeza de que o Amor tudo realiza.
Pauta Musical, um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da Musicabile em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Acompanhe, curta e compartilhe! Envie comentários e sugestões pela página oficial da Rádio e página oficial do programa no Facebook. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse: radio.camara.leg.br