2 em Si
Dualidade e unidade. Duas formas musicais e um intérprete. Duas obras e uma tonalidade. Dois compositores e uma nacionalidade. Concerto e Sinfonia de Johann Michael Haydn e Franz Schubert, interpretados pelo Concilium musicum de Viena, com instrumentos de época originais.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 11 e 12 de fevereiro de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
Concerto em Si Bemol Maior para Violino (Johann Michael Haydn)
Concilium musicum Wien
Paul Angerer (regente)
Christoph Angerer (violino)
Sinfonia n. 5 em Si Bemol Maior (Franz Schubert)
Concilium musicum Wien
Paul Angerer (regente)
Roteiro (excertos)
No século XVII, “concerto” era uma expressão aplicada à execução musical de um conjunto vocal e de instrumentos. A partir daquela época, as transformações encarregadas pelo tempo moldaram o termo a indicar uma obra em que o solista, ou grupo solista, contrasta com um conjunto orquestral. Através dos séculos, os concertos grossos de A. Corelli, concertos de G. Torelli, de J. S. Bach e de A. Vivaldi, sobretudo os concertos solo em 3 movimentos, sobreviveram ao período barroco e se desenvolveram durante todo o classicismo, principalmente sob a sofisticação de W. A. Mozart e inovação de L.v. Beethoven. A majestade dos estilos Mozartiano e Beethoveniano influenciaram compositores românticos e gerações seguintes que não obstante também variassem andamentos e número de movimentos, introduzissem elementos sinfônicos ou novas estruturas, não eliminaram a tradição do concerto solo em 3 movimentos. Este modelo de composição, usualmente alterna movimentos rápido-lento-rápido. Poucos anos mais jovem que o celebrado irmão Joseph Haydn, Johann Michael Haydn, que viveu de 1737 a 1806, produziu um concerto para violino no início do período clássico, século XVIII, de excelente qualidade melódica, calmo, atraente e de forte impressão. Era a transição entre o barroco e o clássico. Um estilo denominado galant.
À época em que compôs o Concerto em Si Bemol Maior para Violino, que requer um habilidoso solista para sua execução, Johann Michael Haydn, na verdade, já havia desenvolvido uma individualidade musical própria e empregado maior variedade de texturas do que o usual no estilo galante. O movimento de abertura deste charmoso e elegante concerto, bem como o movimento lento, é mais clássico, como a dimensão do concerto. O finale é mais barroco. A despeito da celebridade do irmão mais velho, Johann Michael era tido como melhor instrumentista que Franz Joseph, notadamente como violinista. Também ele foi compositor da Corte — em Salzsburgo — e exerceu influência sob Mozart.
Franz Schubert era profundo admirador de Johann Michael Haydn. Admirador, também, do imortal Wolfgang Amadeus Mozart, como chegou a definir. Schubert viveu entre 1797 e 1828. Ainda que prodigioso, muitas de suas peças foram concebidas sob forte influência dos mestres que admirava. Aos 19 anos, compôs sua 5ª Sinfonia, considerada por musicólogos como um avanço em originalidade e estilo em relação à sua 4ª Sinfonia, composta no mesmo ano. Um crédito ainda é atribuído a Mozart, particularmente por conta do 3º movimento da 5ª Sinfonia, em que o jovem Schubert homenageia o mestre com inspiração no 3º movimento de sua Sinfonia n. 40.
No renascimento, a expressão “sinfonia” era aplicada geralmente para designar peças instrumentais. A história da música ocidental descreve uma complexa evolução desta forma musical ao longo do tempo: algumas características da sinfonia clássica estão presentes na abertura italiana do século XVII, de movimentos rápido-lento-rápido; mais longos e elaborados movimentos foram concebidos por compositores operísticos; sinfonias de concerto; sinfonias clássicas vienenses, cujo legado de J. Michael Haydn é importante e o de F. Joseph Haydn e W. Amadeus Mozart atingiram o ápice; a estrutura desenvolvida por Beethoven, que desde então marcou o que veio depois… Hoje em dia, muito compreende a sinfonia e, tudo o que havia até a época de Schubert, haveria de influenciar sua 5ª Sinfonia, encarada como uma promessa do que viriam a ser as suas composições. Uma valiosa e extensa produção musical para a qual nem ele, nem seus apoiadores, tinham recursos financeiros para realizar. Muito pouco de sua obra foi colocada em performance durante a sua vida. A 5ª Sinfonia foi uma das exceções e estreou numa série de concertos ocorrida na casa de Otto Hatwig, violinista da orquestra em que Schubert tocava viola.
Concerto em Si Bemol Maior para Violino, de Johann Michael Haydn, e Sinfonia n. 5 em Si Bemol Maior, de Franz Schubert. Duas formas abundantes na música ocidental, mas um só intérprete: Concilium musicum Wien — ou, de Viena; duas obras diversas, mas uma só tonalidade: Si Bemol Maior; dois autores distintos, mas uma só nacionalidade: austríaca. Dualidade e unidade: jogo que a magia da música também nos permite explorar a partir das potencialidades estéticas, sensitivas e lúdicas oriundas do místico e maravilhoso universo dos sons. Plantas se desenvolvem, animais lactam, bebês se acalmam pela simples exposição às benéficas ondas musicais das boas partituras. São efeitos somáticos que a ciência vem catalogando a partir de pesquisa. Por certo, a origem deles reside na sensação de prazer decorrente de bela melodia, da harmonia, do ritmo, bem compostos e bem executados. E, quando dois convergem em um só, é possível encontrar uma boa síntese em que a dualidade se volta para ela própria e compõe um “2 em Si”.
Pauta Musical, um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da Musicabile em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Acompanhe, curta e compartilhe! Envie comentários e sugestões pela página oficial da Rádio e página oficial do programa no Facebook. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse: radio.camara.leg.br