A Ópera Séria de Rossini — Parte III
A última edição de série especial com o viés dramático de um compositor de forte veia cômica. Aberturas das óperas sérias Edoardo e Cristina, Armida, Demetrio e Polibio, e Bianca e Faliero, com inclusão da abertura da ópera semiseria Torvaldo e Dorliska e do prelúdio orquestral da música incidental de Edipo a Colono, de Gioachino Rossini. Academy of St. Martin in the Fields regida por Sir Neville Marriner.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 02 e 03 de setembro de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
Edoardo e Cristina (Rossini)
Armida (Rossini)
Edipo a Colono (Rossini) *música incidental
Demetrio e Polibio (Rossini)
Bianca e Faliero (Rossini)
Torvaldo e Dorliska (Rossini) *ópera semiseria
Academy of St. Martin in the Fields
Sir Neville Marriner (regente)
Roteiro (excertos)
Viena, 1822. Mais uma célebre página de nossa História entrava para a memória universal: o ainda jovem e já famoso Rossini realizava o desejo de estar pessoalmente com o lendário Beethoven. Foi recebido na própria casa do grande gênio e dele ouviu congratulações e afirmações de que O Barbeiro de Sevilha será apresentado até quando existir ópera italiana. Do alto de sua sólida e incontestável majestade, aconselhou que nunca tentasse escrever algo além da ópera bufa, sob o risco de que outro estilo talvez agredisse sua essência inata. A surdez já havia tomado conta de Beethoven, mas como ele próprio disse a Rossini, conseguia ‘ouvir’ através da leitura das partituras. O poeta italiano que intermediou a visita imediatamente informou a Beethoven que, para além das comédias, Rossini também era um mestre em óperas de paixão e grandeza. Beethoven não estava familiarizado com este outro veio e, sempre seguro, disse a Rossini que, acima de tudo, escrevesse mais barbeiros! O drama presente no repertório operístico de Rossini em obras de sucesso, atesta sua versatilidade e talento para o caráter dramático, sendo ele um compositor conhecido por sua forte veia cômica. Composta às pressas para estreia marcada em menos de um mês após a estreia de Ermione, Rossini empregou em Eduardo e Cristina vários números musicais de outras obras suas, incluindo a própria Ermione, Adelaide di Borgogna e Ricciardo e Zoraide. Suécia, passado distante. Eduardo, comandante do exército sueco, com triunfo é saudado pelo rei Carlos em Estocolmo. Sua filha Cristina, esposa secreta de Eduardo e já mãe de um pequeno herdeiro, está prometida ao príncipe real da Escócia. A história se desenrola em meio a silêncios e revelações, prisão, fuga e novo triunfo de Eduardo em batalha contra um ataque russo; A entrega de sua espada ao rei Carlos, perdão real e bênção ao casal. Abertura de Eduardo e Cristina, de Gioacchino Rossini. Ópera em 2 atos, baseada na original homônima de Stefano Pavesi.
As Cruzadas, perto de Jerusalém. Uma história de confronto entre cavaleiros das forças cristãs e terríveis impostores dispostos a escravizá-los a todo custo, até mesmo invocando espíritos inferiores. O paladino Rinaldo e Armida, feiticeira Princesa de Damasco, protagonizam o cenário de encantamentos, vis ilusões e leal resgate num desfecho de triunfo do Bem sobre o mal. Abertura de Armida, de Rossini. Ópera em 3 atos, baseada em cenas do poema épico Jerusalém Libertada, de Torquato Tasso.
Na sequência, uma obra apontada pelo respeitado musicólogo Philip Gossett, grande especialista em Rossini, como fascinante, embora um tanto fora do convencional. Baseado na peça que entremeia Édipo Rei e Antígona, da magna Trilogia Tebana de Sófocles, o prelúdio orquestral da música incidental para Édipo em Colono, de Rossini.
Pártia, século II a.C. Polibio, rei parta, é o bom protetor do casal formado por sua filha e pelo suposto filho de um ministro do rei Demetrio, da Síria. Ainda sem saber ao certo de que se trata de seu próprio e desaparecido filho, Demetrio se infiltra na corte parta disfarçado de mensageiro real. O conflito se estabelece e se desenrola em meio a tentativas de sequestro e homicídio, antes de chegada a paz. Abertura de Demetrio e Polibio, de Rossini. Ópera em 2 atos, a primeira de Rossini em grande escala, criada na adolescência, em seus dias de estudante.
Na sequência, um quadro de conflito, amargura e excesso emocional num rol de políticos, nobres, oficiais de justiça e soldados. Veneza, século XVII. O herói Falliero retorna vitorioso após derrotar inimigos para encontrar Bianca, já prometida pelo pai a um membro de clã rival. Rumores e ameaças são artimanhas que jogam Falliero na armadilha de ser capturado e julgado por traição frente “O Conselho dos Três”, integrado sobretudo pelo noivo rival e pelo pai da noiva. O que há de ser tem muita força, e os amantes pertencem um ao outro. A abertura de Bianca e Faliero, ou Il Consiglio dei Tre, de Rossini. Ópera em 2 atos, baseada na peça Les Vénitiens, de Antoine-Vincent Arnault.
Idade Média. Castelo do Duque de Ordow. O cavaleiro Torvaldo e sua esposa Dorliska sofrem cruéis e mortais atentados por parte do terrível e violento duque, que a deseja. Alguns aliados e, ao final, o agregado poder da multidão, selam o desfecho de libertação do casal. Abertura de Torvaldo e Dorliska, de Rossini. Em 2 atos, ópera dita de resgate, com inclusão de papéis cômicos, razão de sua designação como obra ‘semiseria’, baseada no romance Os Amores do Cavaleiro de Faublas, de Jean-Baptiste Louvet de Couvrai.
Ao contrário do que ocorreu na ópera séria, a ópera bufa se firmou apesar de inúmeros libretos um tanto pobres e muita criatividade dos intérpretes em detrimento de destacada qualidade vocal. Os enredos com temas um tanto quanto repetitivos, mesmo assim, ganhavam o gosto do público da época. Talvez por isto, também, Rossini tenha lançado mão da repetição musical, enxertada em várias peças com tamanha maestria que soava como inédita e feita para uma única ocasião. As deficiências de texto foram sempre superadas pela arte musical ímpar de Rossini, a ponto de fazer de cada título um sucesso que se repete através do tempo. A falta de tempo, apesar de sua incrível velocidade em compor, parece ter sido mesmo seu maior rival e levado a repetições musicais nas temáticas trágicas, históricas e mitológicas de suas óperas sérias, baseadas em escritos imortais de notáveis e consagrados filósofos, poetas e dramaturgos.
Até a próxima edição, em mais um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da MUSICABILE em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Acompanhe, curta, compartilhe! Envie comentários e sugestões pelas redes sociais da Rádio e redes sociais do programa. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse radio.camara.leg.br