A Batalha dos Hunos
Música, pintura e filosofia nesta edição do programa Pauta Musical. A motivação sonora de obras de grandes autores da história universal, em burilado movimento na partitura de um grande compositor. A orquestra Leipzig Gewandhaus regida pelo maestro Kurt Masur interpreta A Batalha dos Hunos e Os Ideais. Dois poemas sinfônicos de Franz Liszt.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 21 e 22 de outubro de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
A Batalha dos Hunos (Liszt)
Os Ideais (Liszt)
Leipzig Gewandhaus
Kurt Masur (regente)
Roteiro (excertos)
Música e pintura! Pincéis e partituras! Técnica, criatividade e talento na partitura do compositor, para dar vida sonora a obras-primas das artes plásticas, assinadas por grandes autores da história universal. Baseado na abertura de concerto, o poema sinfônico é uma forma musical orquestral estruturada em um único movimento e busca inspiração em obras de outras artes — pintura, escultura, literatura, teatro… — em episódios da própria história universal ou em fatos da natureza. É uma peça musical a descrever um programa a partir de uma ideia extra musical, seja ela poética ou realista. Com derivação na forma utilizada no primeiro movimento da sinfonia clássica, por sua vez oriundo da sonata, o poema sinfônico, também conhecido como “tone poem”, do inglês, ou “tondichtung”, do alemão (poema sonoro), teve seu apogeu no século XIX e declínio no século XX em razão, talvez, da rejeição às ideias românticas e à substituição por noções de abstração. Quando essa peça musical descritiva segue a estrutura da sinfonia clássica, mais de um movimento, passa a ser chamada de sinfonia programática, como se pode dizer da famosa Sinfonia n. 6 de L.v. Beethoven, intitulada Pastoral e da famosa Sinfonia Fantástica de Hector Berlioz, apesar das discussões em torno da peça de Berlioz, quanto aos critérios técnicos que a tornariam um poema sinfônico de fato. O virtuoso húngaro do século XIX, Franz Liszt, foi um expoente dessa forma musical e produziu mais de uma dúzia de obras dessa natureza. A Batalha dos Hunos é seu décimo primeiro poema sinfônico, completado em 1857 e estreado no mesmo ano. Tomou como inspiração a pintura homônima do artista alemão Wilhelm von Kaulbach, que descreve a batalha travada em 451 d.C. entre o Império Romano do Ocidente e aliados, e os hunos, comandados por Átila. Conta a lenda que a batalha foi de tal grau de ferocidade, que as almas dos guerreiros mortos continuaram a lutar pelos ares enquanto subiam aos céus. E assim retratou o pintor. A partitura do compositor contém inscrições de timbre muito escuro e soar fantasmagórico numa parte tempestuosa, grito de batalha e Crux Fidelis numa parte que usa escala cigana e cantochão, descrito por Liszt como “duas correntes de luz contrárias onde os hunos e a Cruz se movem”. O cantochão do século VI retorna numa parte tranquila e pacífica que ao final inclui um órgão e conclui triunfal a vitória da civilização cristã sobre a barbárie. A Batalha dos Hunos, Poema Sinfônico n. 11, de Franz Liszt. Pictórica música de batalha.
Décimo segundo poema sinfônico criado por Liszt, Os Ideais também foi completado em 1857 e estreado no mesmo ano. Música e filosofia! Raramente executado nos dias de hoje, foi inspirado em múltiplas passagens do poema filosófico homônimo de Friedrich Schiller e serviu em homenagem à época de inauguração de um monumento a Goethe e Schiller, apresentado juntamente à sua Sinfonia Fausto. Liszt transcreveu os versos de Schiller na partitura e procurou, acima de tudo, captar a essência da luta filosófica contida no tema. Os Ideais, Poema Sinfônico n. 12, de Liszt. Ideais de amor, verdade, amizade; as aspirações, lutas e realizações da vida de um homem comum.
Quando o recém construído Novo Museu de Berlim buscava ilustrar a história da humanidade, recorreu ao pintor e muralista Wilhelm von Kaulbach, que ao lado de A Torre de Babel e de Homero e os Gregos, num total de seis obras cuja narrativa abrangente era a descoberta dos principais agentes da civilização nos dramas históricos do mundo, pintou A Batalha dos Hunos. Liszt esteve com Kaulbach, foi retratado por ele, e considerou “sujeitar várias de suas obras históricas à transformação musical com o conceito da história do mundo na música e nas imagens”. Em A Batalha dos Hunos, a representação do choque entre “a fúria da paixão bárbara que levou à devastação de tantos países e massacre de tantas pessoas, de um lado; e de outro, os poderes serenos e as virtudes irradiadas do Cristianismo. Ambos pressionados um contra o outro como dois gigantes, até que aquele que é identificado com a verdade divina, caridade universal, progresso da humanidade e esperança além do mundo, seja vitorioso e se derrame sobre todas as coisas numa luz radiante, transfiguradora e eterna!”. A todo instante, em cada singular, finito e precioso momento da vida que nos foi confiada, especialmente em tempos difíceis e beligerantes, imperativo é ter em mente o sagrado da existência, retornar ao divino e retomar o ideal de paz — através do amor, da verdade, da amizade — projetá-lo em espectro da mais ampla magnitude e dimensão, arregaçando mangas, erguendo braços, reunindo forças e esforços dignos dos homens de boa vontade, para quem tudo é alcançável. Paz em casa, em família; paz na sociedade; paz na Terra; paz de espírito!
Até a próxima edição, em mais um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da MUSICABILE em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Acompanhe, curta, compartilhe! Envie comentários e sugestões pelas redes sociais da Rádio e redes sociais do programa. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse radio.camara.leg.br