A Ópera Séria de Rossini — Parte I

Pauta Musical
5 min readAug 18, 2023

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Viés dramático de um compositor de forte veia cômica, nesta edição do programa Pauta Musical. Aberturas das óperas sérias Maometto II, L’Assedio di Corinto, Tancredi e Guillaume Tell, com a abertura da ópera bufa La Pietra del Paragone, do italiano Gioachino Rossini. London Symphony Orchestra, Academy of St. Martin in the Fields e Orchestra Filarmonica Gioachino Rossini regidas por Claudio Abbado, Sir Neville Marriner e Donato Renzetti. Série especial em três edições.

Le Siège de Corinthe Act I, par Auguste Caron, Paris 1826

Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 19 e 20 de agosto de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.

Playlist

Maometto II (Rossini)

Academy of St. Martin in the Fields

Sir Neville Marriner (regente)

L’Assedio di Corinto (Rossini)

London Symphony Orchestra

Claudio Abbado (regente)

Tancredi (Rossini)

London Symphony Orchestra

Claudio Abbado (regente)

La Pietra del Paragone (Rossini) *ópera bufa

Orchestra Filarmonica Gioachino Rossini

Donato Renzetti (regente)

Guillaume Tell (Rossini)

London Symphony Orchestra

Claudio Abbado (regente)

Roteiro (excertos)

Holoceno, no primeiro quartel do século XIX: “Depois da morte de Napoleão, surgiu um outro homem do qual se fala todos os dias em Moscou e em Nápoles, em Londres e em Viena, em Paris e em Calcutá.” Assim falou Stendhal, o grande escritor francês, biógrafo de Rossini. A publicação, pouco antes da chegada do compositor a Paris, deu fama imediata ao autor e lhe rendeu o maior sucesso editorial de sua vida. Uma biografia nada tradicional, em se tratando de tão jovem biografado, 32 anos de idade, mas já bastante famoso. Embora o conjunto da obra de Rossini contenha variados gêneros musicais, seu nome é sinônimo de ópera. E, sem equívoco, ópera bufa! Dono de uma veia cômica a impulsionar gargalhadas de fazer derreter gelo glacial, a partir de talento natural, indiscutível e prolífico para esse tipo de ópera, apesar de suas tantas — algumas delas icônicas — óperas sérias. Considerada por alguns como sua ópera mais ambiciosa e como a melhor de suas óperas napolitanas, Maometto II passou por alterações frente à audiência em Nápoles/1820, Veneza/1822 e Paris/1826, tendo sido até mesmo readaptada, traduzida para o francês e apresentada como O Sítio de Corinto. Maometto II retrata a guerra entre turcos e venezianos. O título se refere ao sultão turco-otomano da vida real, Mehmed II (Maomé II), que viveu de 1432 a 1481 e que ficou conhecido nas páginas da História Universal como “O Grande Conquistador de Istambul”, antiga Constantinopla. Mar Egeu, 1470: Bizâncio cai nas mãos dos turcos e as tropas do sultão sitiam a cidadela veneziana de Negroponte, exigindo rendição. A partir daí, um Conselho de Guerra e um triângulo amoroso selam o desfecho do libreto em 2 atos. Da versão de Veneza, a Abertura da ópera Maometto II, de Gioacchino Rossini.

Em linhas gerais, há 2 tipos de ópera: Ópera Séria e Ópera Bufa. A primeira, de caráter mais dramático, e a segunda, relativa à ópera cômica, mais ligeira e burlesca, tendo sido bastante popular. Ópera séria, O Sítio de Corinto ou O Assédio de Corinto foi a primeira em língua francesa musicada por Rossini. Obra em 3 atos estreada em Paris, 1826, nasceu da readaptação profundamente modificada de Maometto II, que teve seu material musical totalmente reciclado. Da batalha em Negroponte ao cerco de Corinto. Assediada pelo exército otomano pouco depois da queda de Constantinopla. Na trama que encena a cidade sitiada e remete à Guerra da Independência Grega, cenas bélicas se mesclam a outros momentos dramáticos que envolvem um perigoso triângulo amoroso. Abertura da ópera L’Assedio di Corinto, de Rossini.

Escrita por Rossini aos 21 anos de idade e considerada sua primeira grande ópera, Tancredi, melodrama heroico baseado na tragédia homônima de Voltaire e no célebre poema épico Jerusalém Libertada de Torquato Tasso, traz notável lirismo, inventividade na orquestração e inovação na ária dupla. Estruturada em 2 atos, estreou numa versão de final feliz em Veneza, 1813, e com o final trágico do original de Voltaire, no mês seguinte em Ferrara. Entre uma ópera e outra, Rossini simplesmente ficou sem tempo, o que não era raro, para escrever uma nova abertura para Tancredi, e tomou emprestada a de sua ópera La Pietra del Paragone. Reaproveitada, configurou um bom exemplo dos esforços de Rossini para apresentar uma obra de palco séria, já que se destacava nas comédias. Frequentemente executado, Tancredi mereceu de Stendhal, a descrição de “verdadeiro trovão num céu claro e azul para a cena lírica italiana”. Siracusa, era das Cruzadas. Ao voltar do exílio, Tancredi descobre que sua bem-amada está prometida a outro, numa estratégia de paz, armada para vencer inimigos sarracenos. Uma carta secreta escrita por ela a Tancredi é interceptada e mal usada pelo noivo, para acusá-la de alta traição e cumplicidade junto aos inimigos. Como prova de seu amor, contudo, para defender o nome dela, ainda sem saber de sua inocência, Tancredi abraça a luta, derrota noivo e sarracenos, é ferido e morre ao final nos braços da amada. Abertura da ópera Tancredi, de Rossini.

Para escrever algumas de suas óperas, sérias e cômicas, Rossini tomou como base várias obras da época. Aproveitou ideias de Mozart e de compositores que lhe foram contemporâneos. O lema, sem culpa, era o de que o que era bom, bem podia ser copiado, sem mal algum, pois garantia-se sucesso, explorava-se o filão até o esgotamento e, parte importante, obras esquecidas naquela época eram reescritas e relançadas. Nessa arte, Rossini era um mestre. Para além de suas ideias originais, era também conhecido pelo reaproveitamento de obras já editadas, havendo casos até onde ele se aproveitou de suas próprias composições, modificando aqui e ali para adequar música ao libreto. Na sequência, a graça da música juvenil de Rossini. Uma ópera que conta a história de um Conde assediado por 3 mulheres. Farto de segundos interesses, o nobre se finge de falido e acaba por descobrir qual delas realmente o ama. Mais familiar agora como pertencente a Tancredi, a abertura da ópera cômica em 2 atos, A Pedra do Paragão ou A Pedra de Toque, de Rossini, estreada no La Scala, de Milão, em 1812.

Inspirada no drama escrito por Friedrich Schiller, a ópera Guillaume Tell de Rossini tem em sua abertura, talvez, a obra mais conhecida do compositor. Foi a última ópera que compôs e sua primeira no estilo francês “grand opéra”, com coros, balés e cenários grandiosos. Suíça, século XIII. Um épico de cunho político numa história em que um patriota suíço, pensando numa rebelião contra a ocupação austríaca, e se recusando a acatar determinada ordem, acaba penalizado a flechar uma maçã posicionada sobre a cabeça do próprio filho. Abertura da ópera Guillaume Tell, de Rossini.

Na próxima edição, outro rol de óperas sérias de Rossini, em mais um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da MUSICABILE em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Acompanhe, curta, compartilhe! Envie comentários e sugestões pelas redes sociais da Rádio e redes sociais do programa. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse radio.camara.leg.br

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Programa temático, educativo e cultural voltado à formação de plateia em música erudita, no ar desde 2008 pela Rádio Câmara em Brasília e 2600 rádios parceiras.

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