Dvořák in Concert IV
Série especial em cinco edições do programa Pauta Musical, com notas do musicólogo David R. Beveridge sobre célebres concertos orquestrais de Antonín Dvořák. Nesta edição, o solista Miloš Sádlo e a Orquestra Filarmônica Tcheca regida por Václav Neumann interpretam duas obras para violoncelo. Uma delas, o aplaudido concerto em si menor. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 06 e 07 de maio de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
Concerto n. 2 em Si Menor para Violoncelo e Orquestra Op. 104 (Dvořák)
Silent Woods for Cello and Orchestra Op. 68 (Dvořák)
Miloš Sádlo (violoncelo)
Orquestra Filarmônica Tcheca
Václav Neumann (regente)
Roteiro (excertos)
Nova York, 1895. Dvořák compõe sua última obra para instrumento solo com orquestra: o soberbo Concerto para Violoncelo em Si Menor, concluído em sua forma original em fevereiro daquele ano. A performance do celista Victor Herbert, seu colega no Conservatório Nacional de Música da América e, particularmente, o Concerto para Violoncelo em Mi Menor de Herbert, lhe serviram de inspiração. Dvořák tocou sua nova obra, ao piano, para pelo menos dois outros violoncelistas que visitaram Nova York enquanto trabalhava nela, mas parece ter sido Hanuš Wihan a quem tinha em mente como solista. Após o retorno à Boêmia, primavera de 1895, executou a obra com Wihan para o editor Simrock e para o crítico Eduard Hanslick e, nessa época, empreendeu uma drástica revisão do final. Dvořák também aceitou algumas das sugestões de Vihan para revisões da parte solo e o escolheu como homenageado na publicação da partitura. Por causa de um conflito com a lotada agenda de apresentações de Vihan, a estreia em Londres — março, 1896 — foi executada pelo violoncelista britânico Leo Stern, embora Vihan tenha executado o concerto várias vezes depois.
Conforme autor de abrangente estudo da vida e obra de Dvořák, o musicólogo norte-americano David R. Beveridge, o compositor ficou de tal forma impressionado com as maravilhas naturais da América, que podemos ouvir pelo menos um reflexo disso nesse segundo concerto para violoncelo. “Isso será uma sinfonia em si menor!”, exclamou ao visitar as Cataratas do Niágara em 1893. E embora tal sinfonia nunca tenha se materializado, podemos facilmente imaginar as águas agitadas e violentas das corredeiras e quedas do Niágara no poderoso crescendo em si menor da introdução orquestral do concerto. No entanto, durante seu último ano na América, quando compôs este concerto, seus pensamentos se voltaram mais para a Boêmia: sentia muita falta dos cinco filhos que havia deixado em Praga e sofria de um forte caso de saudade de casa. Para muitos, o concerto é uma expressão desses sentimentos e, de certo, soa intensamente nostálgico em alguns momentos.
Dvořák, ele próprio, confirmou ter sentido fortes emoções associadas ao seu Concerto para Violoncelo em Si Menor, escrevendo a um amigo não poder tocar o segundo tema lírico do movimento de abertura sem tremer. Uma característica curiosa em sua alusão a uma de suas próprias canções, “Deixa-me andar sozinho em meus sonhos”, na seção intermediária do movimento lento, e uma citação explícita dessa canção no novo final escrito após retornar à Boêmia. Em questionável e não documentada história, se diz que essa era a canção favorita de sua cunhada Josefina Kounicová, que ela havia sido seu primeiro amor, que por ela fez a inserção no segundo movimento quando recebeu notícias de sua grave doença, e que concebeu o novo final como um memorial para ela quando faleceu em maio de 1895. Seja como for, a seção final deste concerto, altamente incomum, mas extraordinariamente convincente, pode ser ouvida tanto como um lamento por um ente perdido, quanto como uma gloriosa celebração da vida da pessoa querida.
Silent Woods é a quinta parte de um ciclo para piano a quatro mãos, composto em 1883, sob demanda de Simrock. Como era comum no final do século XIX fazer arranjos de obras populares para outros instrumentos, em 1891, Dvořák fez um arranjo para violoncelo e piano dessa quinta peça, para a turnê de despedida que deu com o violinista Ferdinand Lachner e o violoncelista Hanuš Wihan nos primeiros meses de 1892 antes de embarcar para a América. O arranjo tornou-se tão popular que Dvořák fez um novo arranjo para violoncelo e orquestra em outubro de 1893. A calma, a paz, a quietude, a melodia sonhadora que soa tão maravilhosa nas cordas do violoncelo, que mal se pode acreditar tenha sido originalmente escrita para piano.
Reafirmando o que disse o eminente crítico musical americano Harold C. Schonberg, Dvořák compôs “um atraente Concerto para Piano em Sol Menor, um belo Concerto para Violino em Lá Menor e um supremo Concerto para Violoncelo em Si Menor”.
Pauta Musical, um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da Musicabile em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil. Acompanhe, curta e compartilhe! Envie comentários e sugestões pela página oficial da Rádio e página oficial do programa no Facebook. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse: radio.camara.leg.br