Dvořák in Concert V
Série especial em cinco edições do programa Pauta Musical, com notas do musicólogo David R. Beveridge sobre célebres concertos orquestrais de Antonín Dvořák. Nesta edição, a Orquestra Sinfônica da Rádio de Praga, regida por Vladimír Válek interpreta a calorosa Sinfonia n. 6 em Ré Maior. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 13 e 14 de maio de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
Symphony n. 6 in D major Op. 60 (Dvořák)
Prague Radio Symphony Orchestra
Vladimír Válek (regente)
Roteiro (excertos)
Novembro, 1879. Dvořák era solicitado em nome da Filarmônica de Viena, e de seu maestro Hans Richter, para lhes compor uma nova sinfonia. Não era apenas uma grande honra para o compositor, mas também um estímulo criativo bem-vindo. E, assim, em pouco tempo nascia a Sinfonia n. 6 em Ré Maior. A velocidade com que trabalhava atestava o vasto fluxo de sua invenção, bem como a espontaneidade da vazão de suas belas ideias. Segundo o musicólogo Jaroslav Holeček, àquela altura, Dvořák já detinha o soberano controle da fluição de sua imaginação musical e era totalmente capaz de lhe dar uma forma sólida e original, criando uma obra cheia de sangue, de cores únicas, encantadoramente direta e completamente alegre. Embora esta Sexta aparentemente nunca ganhe a popularidade de suas três melhores sinfonias, ela continua sendo um importante marco de sua carreira, ao representar uma certa síntese de seu período eslavo, bem como uma transição para as obras-primas de seu último período criativo. No contexto do desenvolvimento de seu estilo sinfônico, esse empreendimento indicava que ele estava totalmente confiante em sua abordagem da composição em 4 movimentos, forma que já dominava. Enquanto a sinfonia anterior em fá maior ainda trazia uma certa falta de coesão estilística, nesta Dvořák finalmente alcançou um estilo impecável na íntegra. A obra se destaca por suas melodias ricas e líricas, grande diversidade, ritmos vivos, e também por seu cheio e colorido som orquestral. A sinfonia é o resultado consumado da influência de formas clássicas combinadas com o que agora era um estilo de composição distinto e cristalizado.
A Sinfonia n. 6, apesar de sexta dentre as nove sinfonias de Dvořák, por muito tempo foi considerada a Primeira, por ter sido a primeira do rol publicada pela editora Simrock. O período de sua vida que culminou com essa Sexta Sinfonia foi de experimentação e desenvolvimento de seu estilo pessoal de composição. Sua voz composicional básica, em grande parte, alavancou a partir de um estudo da tradição clássica germânica. Além de referências melódicas do folclore tcheco, a n. 6 guarda muitas semelhanças com sinfonias de Brahms e de Beethoven, ligações que têm sido propostas e debatidas por estudiosos e críticos musicais. O musicólogo David R. Beveridge, autor de abrangente estudo da vida e obra de Dvořák, é um dos que compara o primeiro e quarto movimentos da Sexta com a Sinfonia n. 2 de Brahms, observando que ambos os compositores relacionam o tema principal do quarto movimento com o tema principal do primeiro movimento, o que denota uma característica cíclica. Contudo, pode não ser tão simples assim dizer categoricamente que uma mistura ou equilíbrio dessas influências culminou na Sinfonia n. 6. Conforme o musicólogo David Brodbeck, Dvořák utilizou fontes da tradição germânica propositalmente para atender ao público vienense e seus valores culturais. Naquela época, a cultura vienense elevava as qualidades germânicas, e não tchecas. Mantendo essa atitude, Dvořák fez referência a obras de Brahms e Beethoven, bem como a uma dança vienense. Beveridge conclui que com a composição de sua Sinfonia n. 6, Dvořák finalmente alcançou um equilíbrio ideal entre suas tendências nacionalistas-românticas e as exigências da forma clássica. Depois do primeiro movimento, concebido em forma de sonata e cujos compassos introdutórios transportam diretamente para um claro e ensolarado dia de verão, um rondó livre cujo tema principal é uma ampla e lírica melodia de cantilena aprimorada com o típico calor de expressão de Dvořák: o lento e maravilhoso noturno do movimento seguinte que, segundo Otakar Šourek, biógrafo do compositor, “canta a magia de uma noite de verão”.
A atmosfera da Sinfonia n. 6 de Dvořák é toda ela calorosa, tranquila e retrata o compositor em sua forma mais característica. O terceiro movimento incorpora uma dança folclórica da Boêmia, rápida, agitada e ardente, que delineia uma característica nacionalista: o furiant. Ritmo que emociona implacável, com seu redemoinho inebriante e selvagem. A Sexta Sinfonia é considerada uma das mais representativas de seu período eslavo. Já recebeu o apelido de “Tcheca”, e também já foi chamada de sinfonia do “Natal”, talvez por conta do lirismo do movimento lento. A estreia foi em março, 1881, regida por Adolf Čech, e recebida com tamanho entusiasmo genuíno, que o furiant teve que ser repetido imediatamente. Na sequência do noturno suavemente ansioso e de um intermezzo ardentemente apaixonado, como descreveu Otakar Šourek, a estilização do furiant no scherzo da obra.
A Sinfonia n. 6, dedicada a Hans Richter, foi uma das primeiras grandes obras sinfônicas de Dvořák a atrair a atenção internacional, capturando, certeira, o estilo nacional tcheco dentro de uma forma clássico-romântica, germânica, padrão. Ocasionalmente criticado pelos compatriotas por não ser nacionalista o suficiente, recebeu justamente de um crítico do Dalibor, jornal tcheco, a seguinte declaração: “Esta nova sinfonia de Dvořák simplesmente se destaca sobre todas as outras do mesmo tipo na literatura musical contemporânea… Na verdade, a obra (Sinfonia n. 6) tem um carácter eminentemente tcheco, tal como Dvořák continua na base do seu grande e fluente poder, cuja árvore é enfeitada pelos frutos cada vez mais belos da sua criação.” De construção espetacular e forma sonata, o Finale segue as convenções de estrutura e movimento harmônico, encerrando a obra com uma alegre sensação de felicidade e contentamento.
Dvořák, compositor tcheco, do período romântico, viveu de 1841 a 1904. Ao invés de herdar a profissão do pai no açougue e na estalagem da aldeia, graças ao seu talento como violista, depois de estudar na Escola de Órgão de Praga, acabou integrando a Orquestra Bohemia do Teatro Provisório, regida por Wagner e depois por Smetana. Por muito tempo, a região da Bohemia pertenceu ao Império Austríaco mas, nem por isso deixou de manter contato com as correntes da música europeia. Viena ditava as leis, mas irradiava música e beneficiava os povos de territórios anexados por meio de fortes mecanismos culturais. Dvořák despontava em Praga. Ao reconhecer seu talento promissor, o Estado austríaco lhe concedeu várias bolsas que valeram o aperfeiçoamento. Professor de composição do Conservatório de Praga e, com o reconhecimento mais do que consolidado, Dvořák se tornou o diretor do Conservatório Nacional de Música, em Nova York. Se entregou com grande dedicação a esse novo posto e, nessa época, compôs sob a influência da música popular norte-americana. Escreveu uma de suas obras mais famosas: a Sinfonia do Novo Mundo, como ficou conhecida sua Sinfonia n. 9, em que utilizou algumas melodias do folclore americano como inspiração. Fase extremamente favorável à atividade criadora de Dvořák, que fez nascer preciosidades como a Humoresque n. 7, que chegou a ser uma das músicas mais tocadas do mundo, e o célebre concerto em si menor para violoncelo, considerado obra-prima. Sua popular e memorável Dança Eslava n. 10, dentre as 16 que compôs, salta estonteante pela veia nacionalista da partitura, aqui ouvida ao fundo numa interpretação de Yo-Yo Ma, Itzhak Perlman e Boston Symphony Orchestra regida por Seiji Ozawa.
Pauta Musical, um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da Musicabile em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil. Acompanhe, curta e compartilhe! Envie comentários e sugestões pela página oficial da Rádio e página oficial do programa no Facebook. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse: radio.camara.leg.br