Dvořák in Concert I
Estreia de série especial no programa Pauta Musical. Cinco edições com notas do musicólogo David R. Beveridge sobre célebres concertos orquestrais de Antonín Dvořák. Nesta edição, o solista Miloš Sádlo e a Orquestra Filarmônica Tcheca regida pelo maestro Václav Neumann interpretam um vigoroso rondó e um esquecido concerto para violoncelo. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 15 e 16 de abril de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
Concerto n. 1 em Lá Maior para Violoncelo e Orquestra (Dvořák)
Rondo em Sol Menor para Violoncelo e Orquestra Op. 94 (Dvořák)
Miloš Sádlo (violoncelo)
Orquestra Filarmônica Tcheca
Václav Neumann (regente)
Roteiro (excertos)
Espetacular na vida é como ela própria conduz, encaminha e encadeia fatos, momentos e acontecimentos, muitas vezes de modo inesperado e surpreendente. Conta o musicólogo americano David R. Beveridge, autor de estudo abrangente da vida e obra de Dvořák, que durante a vida do compositor tcheco, parece ter sido assumido por todos que seu famosíssimo Concerto para Violoncelo em Si Menor, composto na maturidade, era sua única obra nesse gênero. Mesmo em suas próprias listas de obras compostas, privadas, não há menção a qualquer outro concerto para o instrumento. Duas décadas depois de sua morte, apareceu um manuscrito com caligrafia sua intitulado: “Concerto para Violoncelo com Acompanhamento de Piano composto por Antonín Leop. Dvořák e dedicado a seu bom amigo Ludevít Peer como uma lembrança afetuosa”. Na anotação do final: “Louvado seja Deus. Concluído em 30 de junho de 1865 às 6 horas da tarde.” De acordo com o musicólogo, não se trata de um trabalho menor, mas de um dos concertos mais longos já escritos, com quase 1 hora de execução. Aos 23 anos de idade, Dvořák conseguiu criá-lo no mesmo ano de suas 2 primeiras monumentais sinfonias e de 1 ambicioso ciclo de canções, enquanto trabalhava em tempo integral como violista na orquestra do Teatro Provisório de Praga e vivendo em condições nada propícias ao trabalho concentrado, num ambiente com vários outros jovens. Ludevít Peer não estava entre os companheiros de quarto. Era um talentoso violoncelista de 17 anos de idade à época em que era colega de Dvořák na orquestra, e que deixou Praga mais tarde naquele mesmo ano de 1865 para fazer carreira na Alemanha. Aparentemente, Peer levou o manuscrito consigo, nunca o devolveu, e nunca o executou. Talvez o tenha deixado perdido entre seus papéis. Fato é que passou o final de sua vida em Stuttgart, e foi perto de Stuttgart que o manuscrito de Dvořák finalmente apareceu.
Em seu plano geral, este primeiro concerto para violoncelo segue o padrão tradicional de 3 movimentos, exceto o fato da sequência ininterrupta desses movimentos, seguindo um ao outro diretamente, sem pausa. Ouve-se ecos de compositores que fascinaram Dvořák na época, especialmente Wagner e Mendelssohn, inobstante haja plena originalidade, tenha élan, seja imaginativa, bela e, especialmente no segundo movimento, comovente. Por outro lado, como a maioria das obras da juventude de Dvořák, este concerto é um tanto rústico e prolixo. A textura de seu acompanhamento é estranhamente nua, mesmo sendo escrito para piano e não para a orquestra tradicional. Durante a década de 1970, o violoncelista Miloš Sádlo, juntamente com Jarmil Burghauser — a maior autoridade mundial na música de Dvořák e um talentoso compositor — empreendeu uma grande revisão do concerto, incluindo muitos cortes bem recomendados, procedendo como o próprio Dvořák em outras obras de sua juventude, quando voltou a elas mais tarde na vida. Burghauser acrescentou graciosas contramelodias Dvořákianas e marcou o acompanhamento para orquestra como Dvořák poderia ter feito se Peer não tivesse desaparecido com o manuscrito.
Ao contrário do concerto em si menor, este primeiro, em lá maior, ficou a tal ponto negligenciado que o segundo raramente é chamado de “n. 2”. Günter Raphael foi o compositor a redescobrir, orquestrar e editar a partitura no final da década de 1920, tornando-a, porém, mais sua do que de Dvořák. O trabalho repensado de Burghauser e Sádlo na década de 1970 foi publicado de duas maneiras: uma orquestração de Burghauser e a forma original de partitura para piano, com cortes correspondentes à nova versão orquestrada. O resultado é uma obra que, embora menos magistral e polida do que o célebre Concerto para Violoncelo em Si Menor, tem seu próprio valor artístico e nos oferece algo que o concerto posterior não oferece: um vislumbre do mundo de um Dvořák bastante diferente; um mundo cheio da paixão e do entusiasmo da juventude.
As últimas 3 obras de Dvořák para instrumento solo com orquestra foram criadas para um violoncelista amigo, assim como no caso do Concerto para Violoncelo em Lá Maior. Ao contrário do que ocorreu com a mudança de Ludevít Peer para a Alemanha, houve uma duradoura colaboração musical com Hanuš Wihan, que tocou em dezenas de apresentações das obras de câmara de Dvořák com o próprio compositor ao piano. As primeiras obras para Vihan foram 2 pequenas peças criadas para uma extensa “turnê de despedida” da Boêmia e da Morávia nos primeiros meses de 1892, antes da partida de Dvořák para a América, onde apareceu como pianista em duos e trios com Vihan e com o violinista Ferdinand Lachner. Em dezembro de 1891, ele completou o vigoroso Rondo em Sol Menor. Dois dias depois, um arranjo para Silent Woods. Dois anos depois, já em Nova York, orquestrou o acompanhamento de ambas a pedido de seu editor Simrock, que prontamente as publicou nessa nova roupagem, bem como em sua forma original.
Se há pessoas que parecem vir ao mundo predestinadas a impressionar as demais — e felizmente muitos músicos estão neste rol — o tcheco do período romântico, inicialmente destinado a herdar a profissão do pai no açougue e na estalagem da aldeia, Antonín Dvořák é uma delas.
Pauta Musical, um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da Musicabile em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil. Acompanhe, curta e compartilhe! Envie comentários e sugestões pela página oficial da Rádio e página oficial do programa no Facebook. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse: radio.camara.leg.br