Dvořák in Concert III
Série especial em cinco edições do programa Pauta Musical, com notas do musicólogo David R. Beveridge sobre célebres concertos orquestrais de Antonín Dvořák. Nesta edição, os solistas Ivan Moravec e Václav Hudeček, Filarmônica Tcheca regida por Jiří Bělohlávek, interpretam uma mazurca e um concerto para piano. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 29 e 30 de abril de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
Concerto em Sol Menor para Piano e Orquestra Op. 33 (Dvořák)
Ivan Moravec (piano)
Orquestra Filarmônica Tcheca
Jiří Bělohlávek (regente)
Mazurek para Violino e Orquestra Op. 49 (Dvořák)
Václav Hudeček (violino)
Orquestra Filarmônica Tcheca
Jiří Bělohlávek (regente)
Roteiro (excertos)
Europa Central. Segunda metade do século XIX. Romantismo tardio. Passados onze anos da composição de seu primeiro concerto para violoncelo, em Lá Maior, e tendo dado grandes passos para alcançar seu estilo maduro, Dvořák volta à esta forma musical em seu Concerto para Piano em Sol Menor, concluído em setembro de 1876. Conforme o musicólogo americano David R. Beveridge, autor de abrangente estudo da vida e obra de Dvořák, em contraste com todos os outros concertos que escreveu, este concerto para piano não tem dedicatória a um intérprete. Outras fontes registram como destinatário o crítico musical, esteticista e historiador austríaco Eduard Hanslick — um dos principais críticos de seu tempo — como uma expressão do apreço do compositor pela atenção que Hanslick dedicou ao seu trabalho. De perfil conservador, o crítico defendeu a música absoluta face à música programática durante grande parte de sua carreira. De toda forma, para Beveridge, parece provável que Dvořák tenha se aconselhado com o principal pianista de Praga à época, Karel Slavkovský, se não quando originalmente compôs o concerto, pelo menos nas extensas revisões que realizou antes da publicação da obra em 1883. Slavkovský o estreou naquela capital em março de 1878.
Enquanto a música de Dvořák para piano solo representa uma parcela considerável de seu legado musical, e seu grupo de peças de câmara com piano também são uma parte significativa, o Concerto para Piano em Sol Menor é sua única obra para piano e orquestra em todo o seu acervo. Se descontarmos seu primeiro concerto para violoncelo com acompanhamento de piano, é também o primeiro dos três concertos instrumentais do compositor, posteriormente seguido pelos concertos para violino e para violoncelo. De todos os concertos de Dvořák, este é o que mais se aproxima dos modelos clássicos na forma e no tratamento da relação entre solista e acompanhamento. Mesmo algumas das anomalias que apresenta têm precedentes no Concerto para Piano n. 4 em Sol Maior, de Beethoven. Por outro lado, Dvořák não esconde sua admiração por Liszt, e a peça é repleta de paixão romântica e drama. A estreia foi um grande sucesso e esta obra rendeu a Dvořák considerável aclamação ao longo da década seguinte, especialmente na Grã-Bretanha — onde um crítico de Londres o considerou “o melhor concerto para pianoforte produzido durante a última década” e onde em 1890 foi executado sete vezes por três pianistas diferentes.
A forma final do concerto para piano e orquestra de Dvořák foi o resultado de inúmeras revisões e ajustes que fez enquanto terminava a obra, e de muitos outros realizados antes de sua publicação. Nesse meio tempo, a partitura passou pelas mãos de vários editores e pianistas, e é possível que o compositor tenha decidido fazer algumas revisões com base nas observações deles. No entanto, alguns ficaram incomodados com o fato de Dvořák tratar o piano “meramente” como um parceiro igual à orquestra, o que não era costume no século XIX, e que a parte solo apresenta dificuldades técnicas extremas para o intérprete não compatíveis com o “efeito” resultante. Assim sendo, este trabalho gradualmente caiu em desuso, eventualmente ofuscado pelos últimos concertos de Dvořák: aquele para violino e aquele outro para violoncelo. Não muito depois da morte do compositor, o pianista tcheco Vilém Kurz empreendeu uma revisão da parte solo que por muitas décadas foi usada em todas as apresentações, embora desde a década de 1960 alguns pianistas e musicólogos tenham defendido vigorosamente os méritos do original de Dvořák. Nesta gravação, o solista Ivan Moravec adota uma solução de compromisso e (com dois cortes modestos nos longos movimentos externos) apresenta uma versão desta obra que demonstra seu lugar de honra na literatura de concertos para piano.
Com sua Mazurka para Violino e Orquestra, concluída em fevereiro de 1879, Dvořák respondeu a um daqueles pedidos de Simrock, seu editor alemão: “Talvez você possa escrever um ‘húngaro’ ou ‘eslavo’ ou ‘fantasia boêmia’ (ou algum outro, designação nova e picante) para violino com orquestra, para concertos, é claro — lindamente melódico e apimentado também? O compositor não era musicólogo e sua peça musical, na verdade, não se encaixa exatamente na definição da dança folclórica polonesa que ele indicou em seu título, mas esse título e a própria música certamente deram a Simrock o que ele estava procurando. A editora o publicou imediatamente e rapidamente se tornou um item de concerto popular começando com sua estreia (com acompanhamento de piano) em março daquele mesmo ano. Ele traz uma dedicatória ao famoso violinista espanhol Pablo de Sarasate, que, no entanto, Dvořák provavelmente não conhecia à época, ou jamais chegou a conhecer.
O concerto para piano é provavelmente o menos conhecido e menos executado dos concertos de Dvořák. Como disse o eminente crítico musical americano Harold C. Schonberg, Dvořák escreveu “um atraente Concerto para Piano em Sol Menor com uma parte de piano ineficaz, um belo Concerto para Violino em Lá Menor e um supremo Concerto para Violoncelo em Si Menor”.
Pauta Musical, um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da Musicabile em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Cooperação: Embaixada da República Tcheca, no Brasil. Acompanhe, curta e compartilhe! Envie comentários e sugestões pela página oficial da Rádio e página oficial do programa no Facebook. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse: radio.camara.leg.br