O Adagio de Bream
Violão clássico nesta edição do programa Pauta Musical. Trajetória histórica que envolve preconceito e superação. Curiosidades e informações sobre a evolução do instrumento em obras que vão do barroco ao moderno, na interpretação dos solistas John Williams e Julian Bream.
Nesta nota você tem acesso à playlist completa e excertos do roteiro. Esta edição foi transmitida nos dias 25 e 26 de fevereiro de 2023, às 7h30 e às 22h, respectivamente, na Rádio Câmara FM 96,9, com apresentação de Ana Lucia Andrade. Para ouvir o programa em streaming clique AQUI.
Playlist
Sonata in C Sharp Minor [arr. Bream] (Domenico Cimarosa)
Julian Bream (violão)
Guitar Quintet in E Minor Adagio (Luigi Boccherini)
Quartetto di Cremona
Julian Bream (violão)
Concerto in D for Lute and Strings Largo (Antonio Vivaldi)
The Julian Bream Consort
Julian Bream (alaúde)
Concerto in G for Two Lutes and Strings Andante (Antonio Vivaldi)
Julian Bream (alaúde)
Robert Spencer (alaúde)
Monteverdi Orchestra
Sir John Eliot Gardiner (regente)
Guitar Concerto in A Op. 30 Andante Siciliano (Mauro Giuliani)
Julian Bream (violão)
Melos Ensemble
Suite Bergamasque Clair de Lune [arr. Bream] (Claude Debussy)
Julian Bream (violão)
John Williams (violão)
Fantasía para un Gentilhombre Españoleta (Joaquín Rodrigo)
Julian Bream (violão)
RCA Victor Chamber Orchestra
Leo Brouwer (regente)
Concierto de Aranjuez Adagio (Joaquín Rodrigo)
Julian Bream (violão)
The Chamber Orchestra of Europe
Sir John Eliot Gardiner (regente)
Roteiro (excertos)
Cordas, dedilhados, rasgueados, timbres… Uma agradável profusão de sons, provinda de boa técnica e performance de talento. Se o destino inexorável de tudo é a evolução e se toda evolução presume trajetória histórica, o violão e os violonistas são um autêntico marco. Não se pode precisar a origem do instrumento, mas é possível que ela date de milênios. Nesse curso de tempo, houve época em que o violão, assim como seus adeptos, chegou a ser associado à uma fama pouco recomendável. Se atualmente não há mais o preconceito, tal conquista representou uma árdua luta de superação. A última barreira talvez fosse a de que o instrumento não possuísse a devida dignidade, suficiente para a execução da música dita erudita, bem como para integração a um conjunto orquestral. Do mesmo modo, seus instrumentistas e compositores padeceram das agruras do seu destino. Quem sabe, talvez graças a esta exata sina, os profissionais do violão se destaquem como evolucionistas de larga cepa, que ainda enfrentam críticas por não se aterem aos limites do aparelho, acústico ou elétrico, a se lançarem em novas frentes musicais por meio de outros gêneros, instrumentos e formas de apresentação.
Na linha do tempo, o violão acabou originando um ramo da música erudita integrado por obras especialmente compostas para explorar as possibilidades musicais do instrumento: extensão e volume sonoro, variação de timbre, riqueza harmônica. Tocado com unhas bem polidas e sem o uso de plectros (ou palhetas), o violão clássico faz parte do repertório musical dos brasileiros com magníficas obras compostas e interpretadas por brasileiros, apesar de que a tentativa de fazer com que o termo “guitarra” integrasse o vocabulário brasileiro para unificação da nomenclatura com outros idiomas tivesse sempre redundado em fracasso. Em nosso português, violão designa a guitarra clássica. A viola portuguesa, de forma e características semelhantes, mas em tamanho, pouco menor que o violão, acabou por originar o aumentativo.
Os grandes intérpretes do violão clássico ou violão erudito, acústico, possuem uma incrível variedade de toques. John Williams e Julian Bream são 2 grandes nomes da performance violonística e, juntos, soam como 1 só. O australiano Williams foi um fenômeno na vendagem de discos e um músico erudito que se interessou pela guitarra elétrica. O próprio mestre Andrés Segóvia, de quem foi discípulo, não recebeu bem a guinada sem estranhar. De atitude arejada e sempre à procura de material novo, John Williams não se prendeu a fronteiras. O amigo inglês, Julian Bream, no intuito de expandir seu repertório, passou a fazer transcrições de obras escritas originalmente para piano e alaúde. Músico influente na área do violão erudito e alaudista, sua importância ainda se estende ao campo da interpretação da música antiga e ao repertório elizabetano. Bream, na linha de renovação musical, de linguagem contemporânea, ainda pode ser considerado um seguidor de seu também mestre Andrés Segóvia, de preferências neoclássicas.
Manuseio, angulação, regramento… Violão clássico apoiado na perna esquerda, violão popular e violão flamenco apoiado na perna direita… Superada a velha pecha de carga pejorativa mundana, tradição, versatilidade e encanto próprio fazem do instrumento um dos mais populares. No trato fenomenológico, a evolução não se traduz como sinônimo perfeito de regularidade, constância ou de melhoria. Em determinado curso, pode se dar por alternada involução, revolução ou “devolução”. Há, portanto, toda uma riqueza a envolver o conceito a qual, aplicada a fatos concretos, pode representar um valioso acervo cultural. O violão e seus caros profissionais sintetizam com bastante propriedade o fenômeno e demonstram que julgamento, preconceito, inflexibilidade e menoscabo são atitudes que castram possibilidades e, ato contínuo, limitam e reduzem os frutos da existência humana.
Pauta Musical, um passeio pela magia da música erudita! Uma produção da Musicabile em parceria com a Rádio Câmara — Brasília, Governo Federal. Este projeto é realizado com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal, transmitido pela rede legislativa e rádios parceiras em todo o Brasil. Direção e apresentação: Ana Lucia Andrade. Trabalhos técnicos: Ricardo Coelho. Acompanhe, curta e compartilhe! Envie comentários e sugestões pela página oficial da Rádio e página oficial do programa no Facebook. Para ouvir novamente, ou ao vivo pela internet, acesse: radio.camara.leg.br